PráticasRevista Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional
Revista Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional
5 de julho de 2022
Por: Bárbara Matoso
A Revista Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional foi uma coleção publicada entre os anos de 1933 e 1979 pela Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (SPMG), fundada por Helena Antipoff. A revista era destinada aos profissionais que se dedicavam ao ensino especial e à família das crianças excepcionais. Apesar do início da coleção remeter à década de 1930 foi no ano de 1966 que alguns volumes de diversas publicações da instituição foram selecionados para construí-la. Na ocasião, a SPMG publicou a primeira revista da instituição que foi nomeada de Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional, já numerada como Revista Nº 8 e trazia em sua contracapa a seguinte informação: RAZÃO DO Nº 8 – Os números 1, 2 e 3 correspondem aos números 12, 16 e 20 das Publicações da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas Gerais, com o título “Infância Excepcional”, nos anos de 1933, 1934 e 1937. Os números 4, 5, e 6 publicados sob o título “Assistência ao Excepcional” como Suplementos do “Mensageiro Rural”, órgão do Instituto Superior de Educação Rural (ISER) da Fazenda do Rosário, nos anos de 1962 a 1965. O Nº 7, publicado com o título “Boletim Pestalozzi” – Suplemento nº 7 do “Mensageiro Rural”, 2º semestre de 1965. (SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS, 1966, contracapa). Iniciava-se assim uma coleção de revistas dedicada à temática do ensino especial em múltiplos campos: da educação, da assistência social, dos saberes psicológicos, da medicina e da política. Nota-se que a coleção foi construída por publicações de períodos diversos e que tanto a SPMG quanto as políticas públicas destinadas aos estudantes público do ensino especial sofreram modificações, destacando-se duas grandes alterações: dos conceitos e dos entendimentos acerca do estudante do ensino especial e do papel da família na educação das crianças excepcionais. Durante a década de 1930 as publicações veiculavam o termo anormal como um leque conceitual que abarcava grande diversidade e sub nomenclaturas para definir os estudantes que fugiam ao padrão que tradicionalmente frequentavam as escolas. Com a publicação da Reforma do Ensino de 1927 e a proposta de ampliação do acesso ao ensino primário, as escolas mineiras passaram a receber um público estudantil historicamente excluído do processo educativo. A solução prevista pela Secretaria de Educação e Saúde Pública de Minas Gerais foi investir em ações de formação de professores, homogeneização das classes escolares e classificação dos estudantes conforme seus níveis de inteligência e comportamento. As revistas do início da década de 1960 passaram a utilizar com mais frequência o termo excepcional em substituição ao termo anormal como tentativa de reduzir a estigmatização dos estudantes. Ao mesmo tempo as discussões sobre as políticas públicas para o ensino especial começaram a ser aprofundadas nacionalmente, o que demandava maior precisão na definição deste público. Mas, foi na Revista número 8, publicada em 1966, que inaugurou a coleção que o termo infância excepcional foi definido sem atribuir à própria criança a causa da excepcionalidade e avançou em termos de precisão conceitual: O termo “Infância Excepcional” é interpretado de maneira a incluir os seguintes tipos: os mentalmente deficientes, todas as crianças fisicamente incapacitados, os emocionalmente desajustados, bem como as crianças superiormente dotadas, enfim, todos os que requerem consideração especial no lar, na escola e na sociedade. Tais excepcionais compreendem os seguintes grupos: a) retardados mentais de vários graus; b) os total ou parcialmente deficientes de visão, audição e linguagem; c) os indivíduos com desordem neuro-psiquiátricas, distúrbios emocionais e desvios de conduta; d) os portadores de defeitos físicos manifestos, sobretudo no aparelho motor; e) os superdotados do ponto de vista do caráter, das aptidões artísticas ou científicas. (LIMA, ANTIPOFF, PEREIRA e GUERINO, 1966, p. 67). A mudança mais expressiva em relação à ideia de anormalidade ou ao primeiro conceito de infância excepcional, veiculados em publicações anteriores, foi o acréscimo das crianças superdotadas. O termo excepcional deixaria de ser vinculado, exclusivamente, àquilo que faltava nas pessoas. Os excepcionais passariam a ser todos aqueles que requeressem considerações especiais na sociedade. No que se refere às mudanças no papel das famílias na educação das crianças excepcionais, Barbosa (2019) identificou três formas diferentes ao longo dos anos de publicação. Primeiramente elas eram retratadas como um grupo prejudicial para a educação dos estudantes e que deveriam ser distanciadas dos mesmos por meio da alocação das crianças e jovens em internatos. Quando não havia uma explicação médica precisa acerca do que aquelas crianças apresentavam, a extensão do diagnóstico chegava às famílias que muitas vezes foram responsabilizadas pela inadequação das crianças. As revistas publicaram artigos explicando como os maus hábitos familiares, seja por excesso de zelo ou por negligência, tornavam o ambiente nocivo à educação dessas crianças. A educação realizada em internatos ou semi-internatos era a proposta, inicialmente difundida nas revistas, para solucionar esses desafios educacionais de maneira profícua. Em seguida, visto que os resultados esperados não eram alcançados, passaram a convocar as famílias para uma parceria, na condição de coadjuvantes, na educação dos excepcionais. As publicações difundiam que os pais ficassem atentos aos sinais fora do padrão apresentados pelas crianças e admitissem as necessidades específicas apresentadas pelos seus filhos. A ideia divulgada pelas revistas era a de que atentar para tal situação permitiria que as crianças pudessem ser educadas pelos meios adequados a elas. Para que essa parceria fosse concretizada a proposta difundida pelas revistas era a de que os profissionais da educação realizassem um trabalho educativo também com a família, ensinando técnicas e estratégias para dar continuidade aos estímulos necessários às crianças em seus lares. Para os casos em que o estudante estivesse em regime de internato o trabalho com a família seria ainda mais intenso para que as crianças tivessem o devido amparo ao retornar aos seus lares nas férias escolares ou ao término da escolarização. Ou seja, a condição de parceria era estabelecida na medida em que a família seguisse as orientações propostas por profissionais da educação e saúde. A partir da década de 1960, as famílias passaram a ser retratadas como protagonistas na busca pelo direito à educação dessas crianças. As publicações incentivaram a abertura de associações (como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) lideradas pelas famílias para conferir maior autenticidade nas atividades para inserir a pauta na agenda governamental, para que assim o Poder Público assumisse a responsabilidade da demanda apontada pela sociedade, representada pelas famílias. As alterações relacionadas aos conceitos sobre o estudante do ensino especial e ao papel da família na educação das crianças excepcionais não se apresentam como uma ruptura rígida com o passado, como se uma publicação negasse a anterior. A passagem da imagem que se difundia acerca das famílias da pessoa com deficiência foi fluida e a mudança na difusão do seu papel na educação da criança excepcional ocorreu aos poucos.
Referências:
BARBOSA, Esther Augusta Nunes. A Revista Infância Excepcional (1933-1979): Uma contribuição para a história da educação especial; Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. 2019
SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS. Razão do nº 8. Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, contracapa. 1º semestre de 1966.
LIMA, João Frazen de; ANTIPOFF, Helena; PEREIRA, Olívia; GUERIRO, Lisair. Das Sociedades Pestalozzi e A.P.A.E.S. ao Conselho Federal de Educação. (1963). Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, 1º semestre de 1966, p. 67-68.
SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS. Razão do nº 8. Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, contracapa. 1º semestre de 1966.
AUTORA:
Esther Augusta Nunes Barbosa Universidade Federal de Minas Gerais
Revista Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional
A Revista Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional foi uma coleção publicada entre os anos de 1933 e 1979 pela Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (SPMG), fundada por Helena Antipoff. A revista era destinada aos profissionais que se dedicavam ao ensino especial e à família das crianças excepcionais. Apesar do início da coleção remeter à década de 1930 foi no ano de 1966 que alguns volumes de diversas publicações da instituição foram selecionados para construí-la. Na ocasião, a SPMG publicou a primeira revista da instituição que foi nomeada de Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional, já numerada como Revista Nº 8 e trazia em sua contracapa a seguinte informação: RAZÃO DO Nº 8 – Os números 1, 2 e 3 correspondem aos números 12, 16 e 20 das Publicações da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas Gerais, com o título “Infância Excepcional”, nos anos de 1933, 1934 e 1937. Os números 4, 5, e 6 publicados sob o título “Assistência ao Excepcional” como Suplementos do “Mensageiro Rural”, órgão do Instituto Superior de Educação Rural (ISER) da Fazenda do Rosário, nos anos de 1962 a 1965. O Nº 7, publicado com o título “Boletim Pestalozzi” – Suplemento nº 7 do “Mensageiro Rural”, 2º semestre de 1965. (SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS, 1966, contracapa). Iniciava-se assim uma coleção de revistas dedicada à temática do ensino especial em múltiplos campos: da educação, da assistência social, dos saberes psicológicos, da medicina e da política. Nota-se que a coleção foi construída por publicações de períodos diversos e que tanto a SPMG quanto as políticas públicas destinadas aos estudantes público do ensino especial sofreram modificações, destacando-se duas grandes alterações: dos conceitos e dos entendimentos acerca do estudante do ensino especial e do papel da família na educação das crianças excepcionais. Durante a década de 1930 as publicações veiculavam o termo anormal como um leque conceitual que abarcava grande diversidade e sub nomenclaturas para definir os estudantes que fugiam ao padrão que tradicionalmente frequentavam as escolas. Com a publicação da Reforma do Ensino de 1927 e a proposta de ampliação do acesso ao ensino primário, as escolas mineiras passaram a receber um público estudantil historicamente excluído do processo educativo. A solução prevista pela Secretaria de Educação e Saúde Pública de Minas Gerais foi investir em ações de formação de professores, homogeneização das classes escolares e classificação dos estudantes conforme seus níveis de inteligência e comportamento. As revistas do início da década de 1960 passaram a utilizar com mais frequência o termo excepcional em substituição ao termo anormal como tentativa de reduzir a estigmatização dos estudantes. Ao mesmo tempo as discussões sobre as políticas públicas para o ensino especial começaram a ser aprofundadas nacionalmente, o que demandava maior precisão na definição deste público. Mas, foi na Revista número 8, publicada em 1966, que inaugurou a coleção que o termo infância excepcional foi definido sem atribuir à própria criança a causa da excepcionalidade e avançou em termos de precisão conceitual: O termo “Infância Excepcional” é interpretado de maneira a incluir os seguintes tipos: os mentalmente deficientes, todas as crianças fisicamente incapacitados, os emocionalmente desajustados, bem como as crianças superiormente dotadas, enfim, todos os que requerem consideração especial no lar, na escola e na sociedade. Tais excepcionais compreendem os seguintes grupos: a) retardados mentais de vários graus; b) os total ou parcialmente deficientes de visão, audição e linguagem; c) os indivíduos com desordem neuro-psiquiátricas, distúrbios emocionais e desvios de conduta; d) os portadores de defeitos físicos manifestos, sobretudo no aparelho motor; e) os superdotados do ponto de vista do caráter, das aptidões artísticas ou científicas. (LIMA, ANTIPOFF, PEREIRA e GUERINO, 1966, p. 67). A mudança mais expressiva em relação à ideia de anormalidade ou ao primeiro conceito de infância excepcional, veiculados em publicações anteriores, foi o acréscimo das crianças superdotadas. O termo excepcional deixaria de ser vinculado, exclusivamente, àquilo que faltava nas pessoas. Os excepcionais passariam a ser todos aqueles que requeressem considerações especiais na sociedade. No que se refere às mudanças no papel das famílias na educação das crianças excepcionais, Barbosa (2019) identificou três formas diferentes ao longo dos anos de publicação. Primeiramente elas eram retratadas como um grupo prejudicial para a educação dos estudantes e que deveriam ser distanciadas dos mesmos por meio da alocação das crianças e jovens em internatos. Quando não havia uma explicação médica precisa acerca do que aquelas crianças apresentavam, a extensão do diagnóstico chegava às famílias que muitas vezes foram responsabilizadas pela inadequação das crianças. As revistas publicaram artigos explicando como os maus hábitos familiares, seja por excesso de zelo ou por negligência, tornavam o ambiente nocivo à educação dessas crianças. A educação realizada em internatos ou semi-internatos era a proposta, inicialmente difundida nas revistas, para solucionar esses desafios educacionais de maneira profícua. Em seguida, visto que os resultados esperados não eram alcançados, passaram a convocar as famílias para uma parceria, na condição de coadjuvantes, na educação dos excepcionais. As publicações difundiam que os pais ficassem atentos aos sinais fora do padrão apresentados pelas crianças e admitissem as necessidades específicas apresentadas pelos seus filhos. A ideia divulgada pelas revistas era a de que atentar para tal situação permitiria que as crianças pudessem ser educadas pelos meios adequados a elas. Para que essa parceria fosse concretizada a proposta difundida pelas revistas era a de que os profissionais da educação realizassem um trabalho educativo também com a família, ensinando técnicas e estratégias para dar continuidade aos estímulos necessários às crianças em seus lares. Para os casos em que o estudante estivesse em regime de internato o trabalho com a família seria ainda mais intenso para que as crianças tivessem o devido amparo ao retornar aos seus lares nas férias escolares ou ao término da escolarização. Ou seja, a condição de parceria era estabelecida na medida em que a família seguisse as orientações propostas por profissionais da educação e saúde. A partir da década de 1960, as famílias passaram a ser retratadas como protagonistas na busca pelo direito à educação dessas crianças. As publicações incentivaram a abertura de associações (como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) lideradas pelas famílias para conferir maior autenticidade nas atividades para inserir a pauta na agenda governamental, para que assim o Poder Público assumisse a responsabilidade da demanda apontada pela sociedade, representada pelas famílias. As alterações relacionadas aos conceitos sobre o estudante do ensino especial e ao papel da família na educação das crianças excepcionais não se apresentam como uma ruptura rígida com o passado, como se uma publicação negasse a anterior. A passagem da imagem que se difundia acerca das famílias da pessoa com deficiência foi fluida e a mudança na difusão do seu papel na educação da criança excepcional ocorreu aos poucos.
Referências:
BARBOSA, Esther Augusta Nunes. A Revista Infância Excepcional (1933-1979): Uma contribuição para a história da educação especial; Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação. 2019
SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS. Razão do nº 8. Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, contracapa. 1º semestre de 1966.
LIMA, João Frazen de; ANTIPOFF, Helena; PEREIRA, Olívia; GUERIRO, Lisair. Das Sociedades Pestalozzi e A.P.A.E.S. ao Conselho Federal de Educação. (1963). Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, 1º semestre de 1966, p. 67-68.
SOCIEDADE PESTALOZZI DE MINAS GERAIS. Razão do nº 8. Infância Excepcional: Estudo, Educação e Assistência ao Excepcional. Belo Horizonte, n. 8, contracapa. 1º semestre de 1966.
AUTORA:
Esther Augusta Nunes Barbosa
Universidade Federal de Minas Gerais