MARIA IRENE LEITE DA COSTA

20 de setembro de 2022 Por: Bárbara Matoso
Montagem de fotos sobre personagens da Educação Especial em tom azul.

A portuguesa Maria Irene Leite da Costa tinha formação em Ciências Histórico Naturais e em Farmácia pela Universidade do Porto. Entre 1937 e 1941, consegue uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, vai estudar em Genebra, no Instituto Jean-Jacques Rousseau (IJJR) e em seu laboratório de Psicologia Experimental, obtendo um diploma em Psicologia Infantil e Pedagogia.
Durante os anos de 1937 e 1941, no Instituto das Ciências da Educação da Universidade de Genebra, Maria Irene realizou a aplicação do Teste do Desenho de Fay, destinado a verificar o nível mental das crianças. Os conhecimentos adquiridos nesse período, contribuíram para que ela continuasse seu trabalho relacionado à educação de crianças excepcionais em Portugal. Dessa forma, assume, em outubro de 1941, a cadeira da disciplina de Pedagogia de Anormais no Curso de Habilitação para o Magistério de Anormais do Instituto de higiene Mental e Infantil António Aurélio da Costa Ferreira, em Lisboa, e introduz o Teste do Desenho de Fay como método de observação. A partir de 1945, dedicou-se a selecionar e classificar crianças anormais, além de preparar e orientar os docentes para o tratamento e o ensino dessas crianças e promover estudos relacionados a investigações médico-pedagógicas e de psiquiatria infantil. Maria Irene também foi professora no curso de Enfermeiras Puericultoras do Instituto Maternal e lecionou a disciplina de Psicologia e Higiene Mental no Instituto de Educação Infantil, destinado à formação de educadoras da infância. Já no ano de 1966, começa a lecionar Pedagogia e Didática no Curso de Ciências Pedagógicas da Universidade de Lisboa, permanecendo nesse cargo até 1974. Em paralelo com a docência, Maria Irene publica seus estudos na revista A Criança Portuguesa. Um dos primeiros artigos publicados, intitulado Contributo para o estudo da inteligência prática na criança (1942),

demonstra um estudo, realizado no Instituto de Ciências da Educação da Universidade em Genebra, sobre o desenvolvimento da inteligência prática e comparava os resultados obtidos com aqueles que obteve através de sua replicação no Instituto António Aurélio a Costa Ferreira. Outros estudos publicados na mesma revista foram: Aplicação dos métodos dos psicopedagógicos no estudo das fugas infantis (1945), Complexos Infantis (1945), Orientação profissional dos anormais (1946), A afetividade infantil (1951), O teste do desenho de Fay: Aferição nas crianças portuguesas (1952), A falta de aproveitamento escolar no ensino primário (1969). Além da docência e da investigação, entre 1957 e 1965, Maria Irene exerceu funções políticas como: deputada na Assembleia Nacional durante as VII e VIII legislaturas (1957-1965), presidente do Conselho do Escritório Internacional de Educação (1959-1960) e vogal da Junta Nacional da Educação, onde realizou intervenções nas áreas da educação, saúde mental e da assistência às crianças e adolescentes anormais ou inadaptados. Destacam-se duas intervenções parlamentares: uma em 1959-1960, refere-se ao problema da assistência às crianças e adolescentes anormais e outra em 1963-1964, que discute a proposta de lei relativa à saúde mental. Em 1964, é nomeada diretora do Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, permanecendo nesse cargo até 1975. Como membro fundador da Sociedade Portuguesa de Psicologia, enquanto delegada do governo pela UNESCO e presidente do Conselho do BIE (1959 – 1960), seu trabalho passa a ser reconhecido em congressos internacionais e em conferências em diversos países.
Em 1957, Maria Irene foi convidada para ministrar aulas na Sociedade Pestalozzi do Brasil, no Rio de Janeiro e na Fazenda do Rosário, em Ibirité, Minas Gerais, chegando ao país ao final do mês de março deste ano. Maria Irene realiza 10 conferências no Curso de Psicologia da Infância e Adolescência dos Desajustados, no Rio de Janeiro, com o intuito de alertar aos pais um olhar atento na observação do desenvolvimento e do comportamento da criança desde o seu nascimento, além de preparar os educadores a possuírem qualidades necessárias na educação de crianças que demandavam uma educação diferenciada e que deveriam estar pautadas em sólida de formação psicológica, assim como na experiência com diversas técnicas corretivas e da colaboração com a família das crianças. Também foi mencionado, nessas conferências, o valor do diagnóstico psicológico para a readaptação das crianças com dificuldades educativas, o papel do psicólogo como orientador e os testes psicológicos como uma ferramenta importante no processo de compreensão das dificuldades que as crianças apresentam durante o desenvolvimento da vida escolar. Enfatizou o fato de que os testes fornecem apenas indícios, mas nada dizem quanto aos fatores determinantes que são necessários de serem encontrados para a realização do diagnóstico psicológico nas crianças com dificuldades educativas.
A educadora portuguesa também ministrou, em Ibirité, aulas no Curso de Aperfeiçoamento da Psicologia Educacional, entre os dias 02/06 a 19/06 de 1957. Nesse curso, o programa dos conteúdos trabalhados versavam sobre a Psicologia Evolutiva, com destaque na fase escolar, primária e secundária, entre 6 e 18 anos, além dos estudos de Jean Piaget e Bärbel Inhelder (1913 – 1997) sobre as fases de desenvolvimento de noções numéricas e espaciais lógicas, esclarecendo-as com demonstrações práticas e, finalmente, os estudos do André Rey sobre a inteligência senso-motora. Além disso, Maria Irene compartilhou orientações sobre o Ensino Emendativo, os desajustamentos emocionais e meios terapêuticos que o educador poderia utilizar durante a sua prática no âmbito educacional. As discussões referiam-se à anormalidade das crianças nos meios escolares e à causa do atraso infantil relacionada à questão das diferenças individuais e dos níveis de deficiências e distúrbios, assim como assuntos sobre o papel do professor, ensinando e educando as crianças a partir da identificação dos problemas, visando melhor direcionar a prática pedagógica.
Os ensinamentos de Maria Irene demonstram que seus conhecimentos, relacionados a educação de crianças excepcionais no Brasil, baseavam-se em suas experiências vivenciadas no Instituto das Ciências de Educação do IJJR, de Genebra, e no Instituto Antônio Aurélio da Costa Ferreira, de Lisboa, assim como a metodologia utilizada na Educação Ativa. Apesar destes ensinamentos ocorrerem em um período determinado, os conteúdos das conferências e das aulas podem indicar caminhos para se pensar uma formação de educadores destinada à educação de crianças que possuam alguma necessidade especial no meio escolar, visando melhor direcionar a prática pedagógica dos professores.

Publicações da biografada:

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. O Teste do Desenho de Fay: Aferição Nas Crianças Portuguesas. In: Revista Portuguesa de Filosofia, T. 8, Fasc. 4 (Oct. – Dec., 1952), pp. 413-423

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. Contributo para o estudo da inteligência prática na criança. A Criança Portuguesa, 1 (3), 1942, 187 – 200 p.

COSTA, Maria Irene Leite da. Preparação e seleção dos “educadores”. In: Separata de “Credo”, Lisboa, 1950.

COSTA, Maria Irene Leite da. A missão dos pais no mundo actual. In: Separata de “Perspectivas”, Cascais, 1961, 15 p.

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. Aplicação dos métodos dos psicopedagógicos no estudo das fugas infantis. Lisboa: Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade, 1945. 20 pp.

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. O diagnóstico psicológico nas crianças difíceis. Lisboa : [s.n.], 1948, 10 p.

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. Complexos Infantis. Lisboa : [s.n.], 1945. Lisboa: Gráfica Santelmo, 22p.

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. A afetividade infantil. Lisboa : [s.n.], 1951, 19 p.

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. A falta de aproveitamento escolar no ensino primário (1969)

COSTA, Maria Irene Leite da Costa. O valor do labirinto manual de Rey para avaliação da educabilidade. Lisboa: [s.n.], 1946, P. 271-284.

AUTORAS: Adriana Otoni Silva Antunes Duarte
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (Faced/UFJF)
Regina Helena de Freitas Campos
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG)

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