Ester Assunção

19 de setembro de 2022 Por: Bárbara Matoso
Parte da fachada da Escola Estadual Pestalozzi que, até os dias atuais preserva o nome Instituto Pestalozzi
Fonte: Acervo da autora.

Exerceu o magistério, como professora primária, na cidade de Bom Despacho-MG. Nessa ocasião, a cidade de Bom Despacho receberia a visita do então Secretário de Estado da Educação, para quem a professora deveria escrever um discurso de boas-vindas. Impressionado com a capacidade e inteligência daquela docente, o Secretário a convidou para participar da primeira turma do Curso de Aperfeiçoamento para Professores do Estado de Minas Gerais, criado em 1929, que seria dirigido pela Senhora Helena Antipoff. Nesse curso, considerado como de alto nível de qualidade, Ester Assunção se destacou como aluna dedicada e brilhante, fazendo com que a Senhora Helena a conduzisse à Educação Especial, oferecendo-lhe a regência de uma classe de estudantes surdos, em um turno e com altas habilidades/superdotação no outro. A partir daí, Ester Assunção continuou trabalhando com a Senhora Helena Antipoff que, reconhecendo seu poder de liderança, convidou-a, em 1935, para dirigir, em Belo Horizonte, o recém-criado Instituto Pestalozzi, cargo que ocupou até sua aposentadoria, em 1969. Essa instituição foi considerada, ao longo dos anos, como modelo de educação para pessoas com deficiência intelectual e surdez, o que a levou a receber estudantes de todo o território nacional que, chegando à capital mineira com suas famílias se depararam com a grande dificuldade financeira para se hospedarem enquanto seus filhos recebiam os atendimentos necessários. Diante dessa realidade, Ester Assunção criou um programa de “lares-residências”, sensibilizando famílias de Belo Horizonte para abrigarem os estudantes em suas casas. Como exemplo, ela transformou sua própria casa em um “lar-residência”, chegando a abrigar 30 estudantes. Importante dizer que, o Instituto Pestalozzi passou a pertencer à Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais em 1976, sendo denominado Escola Estadual Pestalozzi, em funcionamento até o presente ano. Durante o tempo em que esteve à frente do Instituto Pestalozzi, com grande idealismo pedagógico, a educadora construiu biblioteca, consultórios para atendimentos multiprofissionais e oficinas pedagógicas, com instalações adequadas à educação especial. Nessa instituição houve, também, a criação de alojamentos/acomodações para professores, que vinham de várias localidades do país, até Belo Horizonte, em busca de aperfeiçoamento profissional. Seu trabalho, no entanto, não se resumia às realizações no Instituto Pestalozzi, pois ela fundou, nos anos de 1940, o Instituto Santa Helena que, com uma pedagogia avançada, propunha-se a atender estudantes com Altas habilidades/Superdotação, que, de acordo com Ester Assunção, também precisavam de uma atenção especial. Essa Instituição funcionou até 1974. Pouco tempo depois, na década de 1950, continuando seu legado na Educação Especial, a educadora percebeu uma crescente demanda por atendimentos às pessoas com deficiência. Para atender a essa demanda, ela cedeu um prédio para a criação da Clínica São José, para crianças com dificuldades motoras e deficiência intelectual. Nessa Clínica eram oferecidos o reforço pedagógico e oficinas de bordado e carpintaria, em parceria com o SESI-MINAS. Continuando sua dedicação às pessoas com deficiência, objetivando oferecer o máximo atendimento ao máximo de pessoas, Ester Assunção, adquiriu, em 1964, um terreno, em um município próximo à capital mineira. Nessa época seu programa de lares-residências já não conseguia atender à crescente demanda de famílias vindas de várias localidades que procuravam por atendimento para seus filhos. O objetivo da aquisição desse terreno era a construção de uma grande casa, para abrigar essas famílias, mas, a distância que elas percorriam, diariamente, para os atendimentos tanto no Instituto Pestalozzi quanto na Clínica São José fez com que ela tivesse a ideia de atendê-los lá mesmo, onde moravam. Diante dessa situação, em 1974, a Escola Nossa Senhora D’Assumpção, localizada no município de Betim, passou a atender as pessoas com deficiência e pessoas com transtornos mentais, para estas, através de atendimento-dia, como Hospital-Escola. Essa escola se transformou no Centro Especializado Nossa Senhora D’Assumpção – CENSA, que, com a morte de sua fundadora, passou a ser comandada por seus afilhados. Antes de sua morte, ela ainda inaugurou no município de Betim, a Comunidade Novo Horizonte, em 1977, para abrigar adultos com deficiência, em regime de moradia vitalícia, atendendo a uma preocupação dos pais com o futuro desses sujeitos, após a morte de seus cuidadores. E, em 1987, com um grupo de pais, doou o espaço físico e lançou a pedra fundamental da Sociedade Ester Assumpção de Pesquisa e Assistência ao Excepcional – SEAPAE, sociedade que existe até os dias atuais, recebendo, em 2003. o nome de Instituto Ester Assunção. Além de todo esse brilhante trabalho profissional, Ester Assunção era uma mulher de personalidade forte e humanitária, procurando auxiliar a todos, incluindo parentes e amigos, além das pessoas com deficiência e suas famílias. Ela acreditava na capacidade das pessoas, tanto educandos, quanto profissionais que com ela trabalhavam e aprendiam. Educou seus afilhados, livres para fazerem as escolhas sobre seus futuros, no entanto, dizia que, independentemente dessas escolhas, elas deveriam ser levadas a sério, com responsabilidade.

AUTORA:

Profa. Dra. Sandra Freitas de Souza
PUC-Minas

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