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A ESCOLARIZAÇÃO DE AUTISTAS EM MINAS GERAIS (1980/1990) – UMA ANÁLISE A PARTIR DA CIRCULAÇÃO DO CONCEITO

14 de setembro de 2022 Por: Bárbara Matoso

RESUMO


Dentre os principais desafios da educação especial na atualidade está a escolarização de crianças
com autismo. Os alunos que possuem o transtorno desenvolvem características muito específicas
como dificuldades na área da linguagem e interação social, além de comportamentos restritivos e
estereotipados. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) foi confundido por muito tempo com
a deficiência intelectual e com a psicose infantil e, somente em 1943, foi descrito como uma
entidade nosológica específica. Apesar de ter sido nomeado, o transtorno permaneceu por muito
tempo desconhecido por boa parte da população. Essa pesquisa teve por objetivo analisar aspectos
da circulação e apropriação do diagnóstico de autismo no Brasil, mais especificamente na cidade
de Belo Horizonte, Minas Gerais, entre as décadas de 1980 e 1990. O recorte temporal foi
definido levando em consideração a publicação de uma revista denominada Infanto, Revista de
Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência. A revista foi publicada entre os anos de 1993 e 1999. Editada por um importante nome da psiquiatria nacional, a revista se tornou uma referência
no campo da Psiquiatria Infantil, ao publicar artigos de médicos e de outros profissionais do
campo da saúde mental. Para Chartier (1988), há diferentes modos de apropriação de um termo ou
conceito, que vão orientar a construção de sentido efetuada pelo pesquisador. Com a finalidade de
construção de sentido, optou-se em termos de procedimentos metodológicos, pela triangulação de
fontes. Foram analisados os artigos sobre autismo de todas as edições da Revista Infanto, a fim de
compreender qual conceito circulava no meio acadêmico no período. Depois, foram analisados
prontuários de duas escolas especiais, uma municipal e outra estadual, que receberam alunos com
autismo no período estudado. Por fim, foi realizada uma entrevista semi-estruturada com dois
importantes nomes da Psiquiatria Infantil brasileira, para extrair informações sobre o período
vivenciado, no que diz respeito ao trabalho efetuado com os autistas. Para estabelecer relação
entre os dados, optou-se por elencar três categorias como fios condutores da pesquisa: a descrição
do autismo; os referenciais teóricos utilizados para a definição diagnóstica e os tratamentos
sugeridos para o autismo. As três fontes (revistas, prontuários e entrevistas) foram analisadas a
partir desses fios, entendidos para fins dessa pesquisa, como condutores de sentidos, ou seja, de
como o autismo circulava no período de análise proposto. Ficou demonstrado que o autismo foi
considerado na época uma patologia ainda difícil de deslocar dos quadros de psicose infantil e
deficiência mental. Nas escolas foram localizados poucos prontuários com esse diagnóstico, o que
corrobora com essa afirmação. Em termos de referencial teórico, Kanner foi o grande nome citado
tanto nas revistas, quanto nas entrevistas. Em termos de tratamento, os artigos descreviam as
práticas relacionadas ao campo de atuação do pesquisador: a medicação era discutida pelos
médicos; a psicanálise foi defendida por psicólogos, embora as terapias comportamentais também
tenham sido citadas; as terapias de linguagem pela fonoaudiologia e assim por diante. Já os
prontuários demonstraram a dificuldade em apresentar propostas pedagógicas para os alunos,
limitando-se a ofertar atividades de vida diária e de vida prática. A análise dos dados esclareceu
que, apesar do conhecimento teórico sobre autismo circular na época, esse conhecimento ainda
não era organizado o suficiente pelos profissionais.


Palavras-chaves: Autismo; Psiquiatria Infantil; Escolas Especiais; História da Educação Especial

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