PráticasREVISTA DO ENSINO DE MINAS GERAIS (1925 – 1940/ 1946 – 1970)
REVISTA DO ENSINO DE MINAS GERAIS (1925 – 1940/ 1946 – 1970)
5 de julho de 2022
Por: Bárbara Matoso
No final do século XIX e início do século XX, a imprensa educacional teve papel central na apropriação, circulação e divulgação de teorias, saberes e práticas pedagógicas, médicas e psicológicas entre os profissionais da educação, saúde, psicologia e áreas afins. Compreendemos como impresso pedagógicos, livros, manuais ou compêndios escolares, publicações especificas em educação, coleções destinadas a professores e docentes em formação, jornais e revistas pedagógicas. Pesquisas (CATANI, 1996; BICCAS, 2001, 2005; ASSIS, 2012, 2014, 2016; RODRIGUES E BICCAS, 2015; ASSIS, OLIVEIRA E LOURENÇO, 2020; LIMA, ASSIS E BORGES, 2021) têm tomado impressos educacionais como objeto e como fontes privilegiadas para compreendermos a conformação do campo educacional brasileiro e fortalecimento de saberes, práticas e campos de conhecimento. Concebida como instrumento de formação de professores e de informação de normas e leis adotadas pelo Estado, a Revista do Ensino foi uma publicação oficial da Inspetoria Geral da Instrução do Estado de Minas Gerais e destacou-se como o impresso pedagógico mais importante do estado mineiro no século XX (CATANI, 1996; BICCAS, 2001, 2005; ASSIS, 2012, 2014, 2016; ASSIS, OLIVEIRA E LOURENÇO, 2020). Foi amplamente utilizada pelas escolas públicas, privadas e confessionais de Minas Gerais e de outros estados brasileiros, a fim de formar o corpo docente, compartilhar experiências médico-pedagógicas, psicológicas e educacionais, informar legislações, atualizar e sobretudo divulgar novos saberes vistos como modernos e essenciais às práticas escolares. Criada em 1892, no governo Afonso Pena, a revista teve, inicialmente, três números publicados e posteriormente foi desativada. Reativada trinta e três anos mais tarde, em 1925, no governo de Fernando Mello Viana, o impresso teve outros cento e setenta e cinco números publicados. Neles encontramos diversos temas que permeiam a educação internacional, nacional e sobretudo a educação mineira. Entre os anos de 1925 e 1940, a revista contou com trinta e três seções ao longo dos anos, dentre elas destacamos: Oficial, Higiene Escolar, Atos oficiais, Escola moderna, Administração do ensino, Movimento educacional, Traduções, Transcrições, Colaborações e Bibliografia (BICCAS, 2005). Por meio das seções, podemos observar a influência das reformas educacionais, neste caso a Reforma educacional Francisco Campos, de 1927, na cultura educacional da época e o papel da revista na divulgação de diretrizes e normas que governariam a educação no estado. Em 1940, com o advento da Segunda Guerra mundial a revista foi interrompida. Cinco anos mais tarde, em 1946, suas publicações são retomadas e perduraram até 1971 quando a revista e completamente extinta. (RODRIGUES, BICCAS, 2015). A escolha do nome da revista e a manutenção de seu título por tantos anos é desconhecida, mas sua produção passou por diferentes governos, direções de instrução pública, inspetores do ensino e secretários de educação no Estado de Minas Gerais (BICCAS, 2008). A partir dos sumários, títulos e subtítulos dos artigos publicados na Revista do Ensino, encontramos cerca de oitenta e seis artigos relacionados, ao longo dos anos, à Educação Especial e distribuídos da seguinte forma: Publicações por década da Revista do Ensino; Fonte: Elaborado pelas autoras em 2022. A década de 1930 concentra o maior número de publicações sobre a Educação Especial. Trata-se de um momento de expansão dos grupos escolares, adoção de estudos científicos e de princípios da Escola Nova para organização do sistema escolar, proposição da homogeneização das classes e criação das classes especiais como forma de enfrentamento ao problema das diferenças individuais e dos diferentes ritmos de aprendizado entre os escolares. Os temas que permeavam essas publicações centram-se nas crianças anormais, criança problema, crianças excepcionais, bem-dotados, retardados, escalas métricas de inteligência, testes – pedagógicos, psicológicos e clínicos – e classificação dos escolares, educação e a formação dos professores, classes e escolas especiais, metodologias e estudos em higiene mental, temperamento e psiquiatria. Pesquisas realizadas por Assis, Oliveira e Lourenço (2020) e Lima, Assis e Borges (2021) sobre educação especial e os conceitos de criança anormal, retardada, excepcional e problema, tomando como fonte a Revista do Ensino de Minas Gerais, identificam artigos publicados com os seguintes títulos: Separação dos alunos com inteligência anormal (1925), A educação dos anormais (1925), A homogeneização das classes escolares (1931), Educação das creanças retardadas (1932), O movimento pró-ensino e a fundação da Sociedade Pestalozzi (1932), As classes especiais (1932), Experiências de uma classe de educação especial (1932), Os anormais na escola primária (1933), O ensino dos super-normais (1933), Nossa experiência – monografia – O ensino dos super-normais (1933), Crianças nervosas (1933), Crianças super-normais (1934), A orientação profissional dos retardados (1935), Tendências recentes na educação dos anormais (1935), Ensino de creanças anormais (1936), Creança excepcional (1937), Os retardados (1937), A criança problema (1937), O amparo à criança anormal na América do Sul (1947), A infância excepcional e serviços que presta na Educação de massas de crianças comuns e na formação de educadores (1961), A criança excepcional (1965) e Quatro aspectos da nossa realidade excepcional (2ª parte – a criança excepcional). Em 1932, Helena Antipoff publicou, na Revista e em diversos exemplares, a tradução do livro A educação das crianças retardadas de Alice Descoudres. Embora, esses títulos tenham sido encontrados, pesquisas precisam ser realizadas para identificação de outras publicações. A Revista do Ensino é marcada por diferentes posições e por divergências teóricas quanto aos temas discutidos, mas, de forma geral, as concepções presentes em seus exemplares são favoráveis à educação de crianças anormais ou excepcionais que poderiam se beneficiar da escola. Para estes, deveriam ser organizadas classes especiais formadas por alunos com níveis de inteligência e condições de aprendizagem semelhantes, permitindo assim a elaboração de métodos de ensino adequados a cada público. Em nossas investigações, verificamos a existência da revista, com mesmo título, em Alagoas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraíba. Em outros estados brasileiros, na Bahia por exemplo, encontramos na mesma época as Revistas de Educação, todas produzidas pelo Órgão Oficial da Inspetoria Oficial de Instrução. Entretanto, não tivemos oportunidade de estabelecer largas conexões entre elas.
Referências:
ASSIS, R. M. (2012). Faculdades da alma e suas implicações para a educação: saberes divulgados no século XIX. Educação e Pesquisa. 38(1), 97 – 113.
ASSIS, R. M. (2016). A divulgação da psicologia pela cultura escrita impressa e seus jogos de apropriação. Em R. M. Assis & S. P. Peres (orgs.) História da psicologia: tendências contemporâneas (pp. 207 – 232). Belo Horizonte: Editora Artesã.
ASSIS, R. M. & ANTUNES, M. M. (2014). Psiquismo da criança: psicologia divulgada pela imprensa educacional no Brasil (1930 – 1940). Psychologia Latina. 5 (1), 21-30.
ASSIS, R. M.; OLIVEIRA, C. R.; LOURENÇO, E. A criança anormal e as propostas de educação escolar na imprensa mineira (1930-1940). Revista Brasileira de Educação, v. 25, p. 1–23, 2020.
BICCAS, M. S. “Nossos Concursos” e “a Voz da Prática”: A Revista do Ensino como estratégias de formação de professores em Minas Gerais (1925-1930). Cadernos de História da Educação, n. 4, jan./dez., 2005
BICCAS, M. S. O impresso como estratégia de formação: Revista do Ensino de Minas Gerais (1925-1940). Belo Horizonte, MG: Argvmentvm, 2008.
RODRIGUES, E.; BICCAS, M. S. Imprensa pedagógica e o fazer historiográfico: o caso da Revista do Ensino (1929 – 1930). Acta Scientiarum. Education, v. 37, n. 2, p. 151-163, 15 maio 2015.
CATANI, D. B. A imprensa periódica educacional: As revistas de ensino e o estudo do campo educacional. Educação e Filosofia, 10(20) 115-130, jul./dez. 1996.
LIMA, C. R. O.; ASSIS, R. M.; BORGES, A.A.P. A criança anormal nos manuais de psicologia recomendados às escolas normais (1917 – 1961). In: Congresso Brasileiro de Educação Especial – IX CBEE., 2021, online. Anais CBEE – 2021. AUTORAS: Dra. Raquel Martins de Assis Professora Orientadora no PPGE: Conhecimento e Inclusão Social. UFMG. Cristina Rodrigues de Oliveira Lima Mestranda no PPGE. Conhecimeneto e Inclusão Social, UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais
REVISTA DO ENSINO DE MINAS GERAIS (1925 – 1940/ 1946 – 1970)
No final do século XIX e início do século XX, a imprensa educacional teve papel central na apropriação, circulação e divulgação de teorias, saberes e práticas pedagógicas, médicas e psicológicas entre os profissionais da educação, saúde, psicologia e áreas afins. Compreendemos como impresso pedagógicos, livros, manuais ou compêndios escolares, publicações especificas em educação, coleções destinadas a professores e docentes em formação, jornais e revistas pedagógicas. Pesquisas (CATANI, 1996; BICCAS, 2001, 2005; ASSIS, 2012, 2014, 2016; RODRIGUES E BICCAS, 2015; ASSIS, OLIVEIRA E LOURENÇO, 2020; LIMA, ASSIS E BORGES, 2021) têm tomado impressos educacionais como objeto e como fontes privilegiadas para compreendermos a conformação do campo educacional brasileiro e fortalecimento de saberes, práticas e campos de conhecimento. Concebida como instrumento de formação de professores e de informação de normas e leis adotadas pelo Estado, a Revista do Ensino foi uma publicação oficial da Inspetoria Geral da Instrução do Estado de Minas Gerais e destacou-se como o impresso pedagógico mais importante do estado mineiro no século XX (CATANI, 1996; BICCAS, 2001, 2005; ASSIS, 2012, 2014, 2016; ASSIS, OLIVEIRA E LOURENÇO, 2020). Foi amplamente utilizada pelas escolas públicas, privadas e confessionais de Minas Gerais e de outros estados brasileiros, a fim de formar o corpo docente, compartilhar experiências médico-pedagógicas, psicológicas e educacionais, informar legislações, atualizar e sobretudo divulgar novos saberes vistos como modernos e essenciais às práticas escolares. Criada em 1892, no governo Afonso Pena, a revista teve, inicialmente, três números publicados e posteriormente foi desativada. Reativada trinta e três anos mais tarde, em 1925, no governo de Fernando Mello Viana, o impresso teve outros cento e setenta e cinco números publicados. Neles encontramos diversos temas que permeiam a educação internacional, nacional e sobretudo a educação mineira. Entre os anos de 1925 e 1940, a revista contou com trinta e três seções ao longo dos anos, dentre elas destacamos: Oficial, Higiene Escolar, Atos oficiais, Escola moderna, Administração do ensino, Movimento educacional, Traduções, Transcrições, Colaborações e Bibliografia (BICCAS, 2005). Por meio das seções, podemos observar a influência das reformas educacionais, neste caso a Reforma educacional Francisco Campos, de 1927, na cultura educacional da época e o papel da revista na divulgação de diretrizes e normas que governariam a educação no estado. Em 1940, com o advento da Segunda Guerra mundial a revista foi interrompida. Cinco anos mais tarde, em 1946, suas publicações são retomadas e perduraram até 1971 quando a revista e completamente extinta. (RODRIGUES, BICCAS, 2015). A escolha do nome da revista e a manutenção de seu título por tantos anos é desconhecida, mas sua produção passou por diferentes governos, direções de instrução pública, inspetores do ensino e secretários de educação no Estado de Minas Gerais (BICCAS, 2008). A partir dos sumários, títulos e subtítulos dos artigos publicados na Revista do Ensino, encontramos cerca de oitenta e seis artigos relacionados, ao longo dos anos, à Educação Especial e distribuídos da seguinte forma: Publicações por década da Revista do Ensino; Fonte: Elaborado pelas autoras em 2022. A década de 1930 concentra o maior número de publicações sobre a Educação Especial. Trata-se de um momento de expansão dos grupos escolares, adoção de estudos científicos e de princípios da Escola Nova para organização do sistema escolar, proposição da homogeneização das classes e criação das classes especiais como forma de enfrentamento ao problema das diferenças individuais e dos diferentes ritmos de aprendizado entre os escolares. Os temas que permeavam essas publicações centram-se nas crianças anormais, criança problema, crianças excepcionais, bem-dotados, retardados, escalas métricas de inteligência, testes – pedagógicos, psicológicos e clínicos – e classificação dos escolares, educação e a formação dos professores, classes e escolas especiais, metodologias e estudos em higiene mental, temperamento e psiquiatria. Pesquisas realizadas por Assis, Oliveira e Lourenço (2020) e Lima, Assis e Borges (2021) sobre educação especial e os conceitos de criança anormal, retardada, excepcional e problema, tomando como fonte a Revista do Ensino de Minas Gerais, identificam artigos publicados com os seguintes títulos: Separação dos alunos com inteligência anormal (1925), A educação dos anormais (1925), A homogeneização das classes escolares (1931), Educação das creanças retardadas (1932), O movimento pró-ensino e a fundação da Sociedade Pestalozzi (1932), As classes especiais (1932), Experiências de uma classe de educação especial (1932), Os anormais na escola primária (1933), O ensino dos super-normais (1933), Nossa experiência – monografia – O ensino dos super-normais (1933), Crianças nervosas (1933), Crianças super-normais (1934), A orientação profissional dos retardados (1935), Tendências recentes na educação dos anormais (1935), Ensino de creanças anormais (1936), Creança excepcional (1937), Os retardados (1937), A criança problema (1937), O amparo à criança anormal na América do Sul (1947), A infância excepcional e serviços que presta na Educação de massas de crianças comuns e na formação de educadores (1961), A criança excepcional (1965) e Quatro aspectos da nossa realidade excepcional (2ª parte – a criança excepcional). Em 1932, Helena Antipoff publicou, na Revista e em diversos exemplares, a tradução do livro A educação das crianças retardadas de Alice Descoudres. Embora, esses títulos tenham sido encontrados, pesquisas precisam ser realizadas para identificação de outras publicações. A Revista do Ensino é marcada por diferentes posições e por divergências teóricas quanto aos temas discutidos, mas, de forma geral, as concepções presentes em seus exemplares são favoráveis à educação de crianças anormais ou excepcionais que poderiam se beneficiar da escola. Para estes, deveriam ser organizadas classes especiais formadas por alunos com níveis de inteligência e condições de aprendizagem semelhantes, permitindo assim a elaboração de métodos de ensino adequados a cada público. Em nossas investigações, verificamos a existência da revista, com mesmo título, em Alagoas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraíba. Em outros estados brasileiros, na Bahia por exemplo, encontramos na mesma época as Revistas de Educação, todas produzidas pelo Órgão Oficial da Inspetoria Oficial de Instrução. Entretanto, não tivemos oportunidade de estabelecer largas conexões entre elas.
Referências:
ASSIS, R. M. (2012). Faculdades da alma e suas implicações para a educação: saberes divulgados no século XIX. Educação e Pesquisa. 38(1), 97 – 113.
ASSIS, R. M. (2016). A divulgação da psicologia pela cultura escrita impressa e seus jogos de apropriação. Em R. M. Assis & S. P. Peres (orgs.) História da psicologia: tendências contemporâneas (pp. 207 – 232). Belo Horizonte: Editora Artesã.
ASSIS, R. M. & ANTUNES, M. M. (2014). Psiquismo da criança: psicologia divulgada pela imprensa educacional no Brasil (1930 – 1940). Psychologia Latina. 5 (1), 21-30.
ASSIS, R. M.; OLIVEIRA, C. R.; LOURENÇO, E. A criança anormal e as propostas de educação escolar na imprensa mineira (1930-1940). Revista Brasileira de Educação, v. 25, p. 1–23, 2020.
BICCAS, M. S. “Nossos Concursos” e “a Voz da Prática”: A Revista do Ensino como estratégias de formação de professores em Minas Gerais (1925-1930). Cadernos de História da Educação, n. 4, jan./dez., 2005
BICCAS, M. S. O impresso como estratégia de formação: Revista do Ensino de Minas Gerais (1925-1940). Belo Horizonte, MG: Argvmentvm, 2008.
RODRIGUES, E.; BICCAS, M. S. Imprensa pedagógica e o fazer historiográfico: o caso da Revista do Ensino (1929 – 1930). Acta Scientiarum. Education, v. 37, n. 2, p. 151-163, 15 maio 2015.
CATANI, D. B. A imprensa periódica educacional: As revistas de ensino e o estudo do campo educacional. Educação e Filosofia, 10(20) 115-130, jul./dez. 1996.
LIMA, C. R. O.; ASSIS, R. M.; BORGES, A.A.P. A criança anormal nos manuais de psicologia recomendados às escolas normais (1917 – 1961). In: Congresso Brasileiro de Educação Especial – IX CBEE., 2021, online. Anais CBEE – 2021.
AUTORAS:
Dra. Raquel Martins de Assis
Professora Orientadora no PPGE: Conhecimento e Inclusão Social. UFMG.
Cristina Rodrigues de Oliveira Lima
Mestranda no PPGE. Conhecimeneto e Inclusão Social, UFMG.
Universidade Federal de Minas Gerais